Libriana ♎

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Aos 7 anos vi meu irmão e minha prima andando de bicicleta. Era na casa de praia do padrasto da minha mãe (que tinha como meu avô materno). O sol de fim de tarde alaranjava a visão e junto a cor laranja a silhueta de ambos rindo descendo a ladeira me aquecia por dentro. Feliz e ansioso pela minha vez peguei a bicicleta rosa com cestinho da minha prima. Só faltou eu saber andar porque até ali nunca tive ninguém para me ensinar. Foi minha primeira queda feia de muitas, e aceitei o desafio de na marra só voltar pra casa sabendo me equilibrar nela.
Mais de 10 anos depois outra silhueta aqueceu meu coração e eu lembro exatamente o vestido que ela estava usando. O meu chefe já tinha cantado a bola sobre o quanto aquele pingo de gente iria chamar minha atenção. A sala de reunião encheu com a equipe aquele dia e entre as apresentações eu vi a silhueta perfeita do corpo daquela mulher. Parecia feita em pintura. Afinava na cintura e subia caprichosamente pelo quadril formando um coração que acabava sem aviso pelas coxas. Paralisei. Petrifiquei. Suspirei. 
Ela sem perceber enquanto falava e gesticulava com as mãos sorriu para mim olhando nos meus olhos como se enxergasse minha alma. 
Olhei para o lado e soltei pro colega mais próximo
"Minha" Com uma voz quase chorosa como quando a gente é criança e quer ser mimado com a última bolacha do pacote. Ele riu com desdém (uma risada quase sádica) "Doutor você não viu a algema que usa no dedo?" O calor do meu coração se foi na hora. 
As semanas passaram devagar. Tentava evitar a pequena silhueta a maior parte do tempo e se não fosse uma amiga em comum eu teria conseguido. "Nossa lê. nossa amiga reparou que você não fala com ela" Fiquei envergonhado. Abracei rapidamente após um breve beijo no rosto e o calor gostoso que não sentia a anos voltou a fazer morada. 
A química foi automatica. As provocações aumentavam conforme ela ia se distanciando do relacionamento atual que ela descrevia como "Viver a vida de outra pessoa" Aquilo não era pra ela. Ela era ousada, provocante, inquieta até. 
Ela gosta do flerte, da troca de olhares, dos elogios implícitos. Como Afrodite das lendas gregas antigas e o problema é que eu também. 
Uma vez num happy hour quase perdemos o controle e ela me empurrou no caixa na pizzaria "Eu não vou ficar com você assim".
Quando ela de fato encerrou o relacionamento e sorriu pra mim ao som de Tem Café eu queimei.
Libriana que só sabe muito bem conduzir o flerte ao bote fatal. E foi. E eu me entreguei como não me entregava a tempos. 
Me entreguei a namoricos no portão como se voltasse a ter 15 anos. Levei em churrasco de famila. Sorria abobado o dia todo e a chama seguia queimando. 
Bom acontece que libriano que sou preciso medir e equilibrar todas as coisas e ela passou a ter um peso fora do ideal na minha balança. Só faltou eu saber disso porque até ali ninguém tinha me ensinado. 
Igual tempestade de verão acabou com a mesma velocidade que começou mas eu gostei de me molhar. Foi mais uma das minhas quedas. Mas eu aceitei o desafio de só voltar pra casa sabendo me equilibrar. 
Acho que vou lembrar para sempre da librinana que me lembrou como é bom estar apaixonado e se chegar a ler isso pequena muito obrigado. 
Alias sobre a praia e eu andar de bicicleta?
eu entrei em casa as 21h todo sujo, ralado e com roupas rasgadas. Mas sabendo me equilibrar.

Outono

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Dentre as 4 estações o outono é aquela que mas me traz prazer. Não sei explicar o que eu sinto, mas, ela tem um efeito de recomeço. Toda manhã de outono faz eu me sentir mais vivo, faz eu olhar para dentro e perceber coisas que eu não percebo em outros momentos, me lembra quem sou e esse sentimento tem um poder enorme sobre mim.
O fim de tarde, o vento frio, o sol fraquinho, o céu laranja, os lábios secos, um café, uma folha, uma caneta numa praça e como diria Barney Stinson "Esse é o sonho".
Se permita sentir assim.
Quando eu era criança não tive quem me ensinasse a andar de bicicleta, um dia quando eu tinha 8 anos simplesmente peguei a bicicleta dá minha prima e fui pra rua. Eu cai um montão de vezes, ralei o joelho, cotovelo, a palma dá mão e torci o tornozelo mas só voltei pra casa (coberto de sujeira) quando aprendi a andar (tudo bem eram três pedaladas em linha reta e se eu tentasse virar o guidão eu perdia o equilíbrio, mas sozinho e em uma única tarde foi uma puta conquista).
Aquela noite eu dormi com um sorriso no rosto e com as "melhores" dores que eu senti na vida, não importa o tempo que demorou para cicatrizar, não importa quantas vezes eu cai no chão e senti vergonha por ter gente olhando e rindo, muito menos o estado das minhas roupas quando entrei em casa. Só o que eu lembro é dá brisa gelada dá tarde soprando minhas feridas como quem disse "Vai lá garoto você tá quase conseguindo..." e todo desânimo desaparecendo.
Sabe todas as mágoas, dúvidas e decepções? Deixa ir com o vento de outono.
Deixa secar esse rancor, essa insegurança.
Se permita sentir, chorar, se apavorar e quem sabe até mesmo deixar de acreditar por um ou dois minutos. Depois sinta a brisa bater em você, feche os olhos e ouça ela dizendo "Vai lá que você tá quase conseguindo" e perceba que a vida não para, de que somos feitos de coisas boas e ruins e de a cada tombo levantamos mais fortes.
Não espere o Outono chegar para parar e sentir o vento ou qualquer sentimento que existe.
Só viva e persista! 
Coisas extraordinárias ficam logo após uma pequena dose de dificuldade.

Alexandre Magno Abrão - O grande

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Gostaria de começar este post de uma maneira mais alegre, algo como:

“CBJr  lança novo álbum...”

Infelizmente não ser vai sobre isso, também não quero falar sobre a trajetória da banda ou dos prêmios que ela acumulou.  Parafraseando o poeta Tiago Sabino “Jovens precisam de um ídolo saudades do chorão” e embora eu considere a palavra ídolo muito forte, sou obrigado a concordar. Em tempos de “meu pau te ama” e “olha a explosão” como você faz falta parça. “Ela vai voltar” era o hit mais romântico que eu ouvia aos 12 anos e representava alguém que nem tinha chego ainda, mas, eu já queria que voltasse. Passei inúmeras tardes com a voz do Chorão como trilha sonora, quando não era na malhação era na lan house (Saudades Matrix R$1,50 a hora), quando não era na lan house era no fliperama e quando não era no fliperama era na porta da casa da minha avó no finzinho de tarde conversando groselha com minha prima.
O fato é que hoje é um dia triste não só para a música brasileira, mas, também para toda uma geração que cresceu ouvindo “Dona do meu pensamento”  “Zóio de lula” e “Pontes indestrutíveis” não necessariamente nesta ordem e também não necessariamente na infância. Chorão narrou as nossas primeiras decepções amorosas, nossas primeiras crises de identidade, nossos primeiros atos de rebeldia e principalmente nossas rodas de amigos. Ele falava sobre nossas vidas sem ao menos nos conhecer e isso era incrível.

RAP? Rock? Reggae?

Não tinha gênero definido era apenas Charlie Brown.

Alexandre era um poeta rebelde e transviado. Um romântico, louco e sábio e do seu jeito extravagante líder de uma geração. É muito comum falarem de Cazuza, Legião Urbana, Cássia  e outros tantos. Mas espera um pouco, eu tive Chorão e guardada as devidas proporções ele foi um ícone e um marco na minha história. Se eu ouvir “O Preço” ainda arrepio, que musica, que história que vontade de voltar no tempo e viver um pouco mais daquela época.

Infelizmente é assim que a vida é.

As coisas acabam e se vão e tudo o que fica nessa terra são as lembranças e o legado de uma história e isso Chorão deixou aos montes.

A morte dele não foi apenas o fim da vida de um artista, foi o fim de uma era e calhou bem na época em que os jovens que tanto o amavam estavam virando adultos, estavam crescidos e vamos concordar o choque foi muito duro. A infância havia chego ao fim, á adolescência havia acabado e perdemos o nosso sonoplasta pessoal. Não da mais para voltar, não da mais pra pedir um real e perder uma tarde de outono na lan house ouvindo “Dias de Luta, Dias de glória” e é por isso que hoje é um dia triste pra milhares de pessoas, a morte do Chorão nos lembra como nossa juventude o quão dura possa ter sido foi gostosa em alguns momentos e como gostaríamos de ter ficado por lá mais um pouco.
E o que nos resta?
As lembranças e varias músicas que esse monstro deixou de herança, e talvez um pouco de fé de que nossas crianças tenham nos sonoplastas de hoje a mesma referencia que tivemos com o nosso.

Por fim muito obrigado Alexandre descanse em paz.